Mommy...

Eu sei que o que eu escrever aqui talvez nunca chegue ao seu conhecimento, escrevo mais por um exercício mental. Gostaria de pedir desculpas mais uma vez por estar sendo um prejuízo na sua vida. Hoje dormi tanto, parece que os olhos que repousaram sobre mim foram bem pesados, mas não o suficiente para apagar de dentro de mim o vazio que está aos poucos se instalando novamente.
Não tem motivo forte pra dizer que a vida aqui nunca foi fácil porque a senhora já sabe. Externamente, qualquer caos se torna menor quando a própria mente tenta lhe sabotar a qualquer custo. Sinto a compulsão alimentar tentando lutar arduamente contra mim e sei que em hipótese alguma posso deixar ela tomar de conta, minhas costas sentem cada quilo ganho "na brincadeira". Não sei o que fazer pra emagrecer, mas irei fazer todo o esforço possível. Pra senhora e qualquer outro membro da família ou conhecido meu, é fácil dizer que eu não tô gorda, que eu tô com o corpo muito bom pro meu tamanho ou a minha idade. Mas mãe, só eu sinto...
Só eu sinto tudo o que acontece comigo; toda luta perdida, todo esforço feito em vão, toda bola fora, todo pé na bunda que ganho de um cara que não sabe me valorizar ou que vem com a desculpa esfarrapada de que não quer relacionamento sério e o mais difícil, dói ter que dispensar alguém que tenho grande apreço e amizade quando essa pessoa diz que está interessada em mim. Muitas vezes as situações trocam os pés pelas mãos, eu fico numa órbita inexistente pra qualquer outro ser humano, me coloco em uma bolha que se passa por despercebida por qualquer um e ninguém me entende. Pra todo mundo é fácil dizer "eu entendo" e não entender nada.
Mãe, de forma alguma quero lhe culpar por algo e nem que a senhora se sinta assim. Sei o quanto a senhora sonhou em ter filhos, o quanto eu demorei a chegar e agora sinto o peso de não ter me expressado bem quando mais nova. É difícil ter 25 anos sentindo tudo o que eu sinto, tendo que deixar um emprego de muito tempo pra ter uma sanidade mental preservada, evitando ao máximo pensar em morrer pra solucionar algum problema que pra mim é enorme, algo que não posso ou não consigo medir.
Mãe, eu gostaria muito que a senhora entendesse que eu não tenho mais dinheiro pra gastar comigo. Nem falei isso ainda mas talvez eu crie coragem pra falar daqui uns dias, que é quando o serviço de ônibus volta a normalizar e as aulas começam de vez. Gostaria que tudo fosse diferente, que eu não fosse doente, que pudesse ser uma pessoa normal e radiante toda hora, a todo momento, emanando paz e harmonia e tranquilidade e todo sentimento positivo pra alegrar a todo mundo e expressar que o mundo tem jeito sim, que toda dificuldade passa e é questão de tempo. Eu fui assim quando tomei os remédios da UFC, gostaria de ter um repeat daqueles dias bons em que eu tinha minha autoconfiança e meu amor próprio presentes assiduamente na minha vida. Hoje não mais, infelizmente.
Mãe, o helicóptero da polícia passa aqui toda noite e eu me pergunto quando as coisas vão melhorar. Peço a Deus que lhe guarde dos perigos e que a senhora ainda viva muitos anos de vida pra ver o quanto ainda posso ser boa no que gosto de fazer, de estudar, ver que eu posso ir longe sim, mesmo que meu crescimento não seja tão acelerado como eu gostaria que fosse. Deus há de me ouvir. Por enquanto, sigo firme, ao menos com meus pés fincados no chão. Minha mente, não sei como está, prefiro não pensar. Sigo adiante.

Te amo muito.

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